CNBB: “Não temos o direito de subordinar a agenda ambiental à agenda econômica”
Aconteceu, em Brasília, a coletiva de imprensa que marcou o encerramento da reunião do Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Os bispos da recém-eleita Presidência da CNBB falaram aos jornalistas sobre o Código Florestal brasileiro, que está em trâmite no Senado, a crescente violência contra pequenos agricultores e assentados no norte do país e sobre a Campanha da Fraternidade de 2012, que tratará da Saúde Pública. Os bispos aprovaram uma nota sobre o Código Florestal e outra sobre os atos de violência na região Amazônica. “Não temos o direito de subordinar a agenda ambiental à agenda econômica”, afirmaram os bispos na nota sobre o Código Florestal. O secretário geral da CNBB, dom Leonardo Ulrich Steiner, manifestou a preocupação da Igreja com os impactos e as consequências do novo Código Florestal, que atingirão diretamente as pessoas e o meio ambiente, podendo decidir o futuro, não apenas dos brasileiros, mas da humanidade como um todo. “Sem um cuidado real com a natureza, com as florestas e com as águas nós não teremos futuro. E nós, da CNBB, estamos preocupados com essa relação”, disse o secretário. Dom Leonardo destacou a criação de um Fórum, organizado por entidades da sociedade civil, como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Agência Brasileira de Imprensa (ABI) e a própria CNBB dentre outras entidades, para participar diretamente da reformulação do Código Florestal no Senado, levantando questionamento e debatendo alternativas. “Todos sabem que há a intenção da sociedade civil em criar um Fórum para acompanhar a discussão no Senado. Esse Fórum está disposto a criar um abaixo-assinado para pressionar o governo a vetar pontos que especialistas em meio ambiente afirmam serem perigosos, como a flexibilização da lei que altera o regramento das Áreas de Preservação Permanente (APPs) e a anistia das multas e penalidades pelas ocupações e desmatamentos em áreas de agropecuária e de alta relevância ambiental. Como Igreja, incentivaremos os fiéis a aderirem a esse abaixo-assinado, pois o novo código florestal não pode faltar com o equilíbrio entre justiça social, economia e ecologia”, disse dom Leonardo, lembrando a atuação da Igreja em outros abaixo-assinados, como o da criação da chamada Lei da Ficha Limpa, que recolheu mais de um milhão de assinaturas em todo o Brasil. O Conselho Permanente deliberou que a Presidência da CNBB crie uma Comissão, formada por bispos e especialistas, para acompanhar toda a discussão do Código no Senado. O secretário defendeu a participação da Igreja no debate e a necessidade de fazer pressão sobre o Senado. Dom Leonardo lembrou, ainda, que os cientistas não foram chamados ao debate. Sobre o abaixo-assinado, o presidente, cardeal Raymundo Damasceno, explicou que “cada diocese, cada paróquia mobilizará seus fiéis, à sua maneira, para recolher as assinaturas”. Sobre a violência na região Amazônica, que nos últimos meses vitimou vários trabalhadores rurais, pequenos camponeses e lideranças de assentamentos, o presidente da CNBB disse que o governo brasileiro deve tomar todas as medidas cabíveis para evitar os confrontos que estão ocorrendo e proteger as pessoas que estão “marcas para morrer”. “O Governo deve intervir para que essas mortes, que ocorrem principalmente na região Amazônica, cessem. Não é possível que ainda haja lista de ‘marcados para morrer’. É claro que o Governo Federal já tomou algumas iniciativas, como o envio da Força de Segurança Nacional, mas essas medidas devem ser tomadas preventivamente, antecipadas ao fato, e não após a tragédia acontecer”, destacou dom Damasceno, lembrando o assassinato do casal de ambientalistas no Pará e de agricultores em Rondônia. Dom Damasceno ressaltou que a nota divulgada pela CNBB, sobre a violência no norte, serve para chamar a atenção do Governo e é um alerta para evitar mais mortes na região. “É uma situação dolorosa para as família, em primeiro lugar, e para a Igreja, defensora da vida, que não tem preço”. Perguntado sobre a opinião da CNBB a respeito da liberação pelo Supremo Tribunal Federal (STF) da chamada “Marcha da Maconha”, o cardeal disse que o STF apenas permitiu a manifestação em favor da “descriminalização do dependente da maconha” e que “não fez apologia às drogas”. Ele alertou para que a sociedade fique atenta e não se deixe levar por decisões tomadas sem a opinião das famílias. “O Supremo não fez uma apologia do uso da maconha. É claro que a Igreja foi e sempre será contra qualquer tipo de droga, a não ser em casos terapêuticos, e, nesse caso, o médico é que decidirá se usa ou não determinada droga em benefício do paciente”, disse. De acordo com dom Damasceno, ao dependente químico deve ser dado o tratamento para a cura e citou o trabalho feito pela Igreja nesta área, citando a Fazenda Esperança, presente em quase todos os estados brasileiros. “O que não se pode é permitir o tráfico, a produção e a comercialização de drogas”, sublinhou. Ao falar do tema da Campanha da Fraternidade de 2012 sobre Saúde Pública, dom Damasceno insistiu na necessidade de aplicação correta dos recursos destinados à saúde. Segundo disse, se houver necessidade de mais recursos, caberá ao Governo criar mecanismos para isso, mas “não basta ter recursos, é preciso fiscalizar para que não seja desviado”. Fonte: cnbb.org.brCódigo Florestal
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