Uma Igreja pobre para os pobres
By Pastoral da Juventude - Arquidiocese de Feira - 12:01
Em
tempos de teologia da prosperidade, consumismo, crises econômicas aqui e ali,
falar novamente dos pobres parece meio fora da ordem.
Para a Pastoral da
Juventude, a opção pelos pobres nunca esteve fora da pauta. Por ser opção da
Igreja, ela deve se pautar em ações. E toda ação evangelizadora concreta se dá
por meio das pastorais. No entanto, os pobres e as causas da pobreza estavam
ficando mais matizados nos discursos eclesiais.
Eles nunca
estiveram fora da prática de Jesus, fosse estando ao lado deles para
mostrar-lhes sua própria dignidade e valor, fosse estando ao lado dos ricos
para que estes se convertessem a causa da justiça, como no caso de Zaqueu.
Exatamente por isto
que para a prática cristã, o contrário de pobreza não é riqueza, mas justiça. A
miserabilidade nasce das relações injustas que a sociedade cria e ao fazer
opção pelos pobres, a Igreja quer desvelar esta realidade.
Em 16 de março de
2013, o Papa Francisco teve uma audiência com os representantes da imprensa do
mundo todo que cobriram desde a renúncia de Bento XVI até os resultados do
conclave e primeiros dias do novo pontificado. No discurso proferido (que pode ser lido aqui), o Papa fez
a afirmação que dá título a este texto “Ah, como eu queria uma Igreja pobre e
para os pobres”.
Li e reli muitas
afirmações e interpretações deste discurso e desta frase em particular. Há quem
pense que a Igreja iria desfazer-se de todos os bens que possui para
distribuí-los todos aos pobres. Há quem julgue que isto é o que deveria ser
feito. Outros acham que uma “Igreja pobre” não teria recursos para ajudar quem
precisa de ajuda.
São afirmações
colhidas fora do contexto e daquilo que é prática histórica das comunidades
cristãs, em especial aqui no continente latino-americano. Quem acha que só
“rico” pode ajudar o “pobre”, tem em sua mente que este último é objeto da
caridade do primeiro. Não sou estúpido ao ponto de afirmar que a caridade
destes pequenos atos não seja importante. Claro que é. Ela suprime uma
necessidade urgente (fome, sede, frio, doença), mas maior caridade é atacar as
causas destas necessidades.
Uma Igreja pobre
para os pobres não é formada somente por pessoas desprovidas de bens materiais.
Afirmar isto equivaleria a dizer que só um negro poderia se engajar na causa
dos negros, só mulheres na luta das mulheres, só imigrantes valeriam na busca
do direito dos imigrantes. Óbvio que a dor social é mais sentida por aqueles
que sofrem na pele e na história seus efeitos. Mas não são portas fechadas para
aqueles que querem se solidarizar e estar ao lado na busca por justiça.
Neste sentido que
entra a opção pelos pobres abraçada pela PJ e por toda a Igreja. Não são pobres
genéricos, espalhados aqui ou ali. É todo um grupo de pessoas de uma realidade
concreta de exclusão. “É o grito de um povo que sofre e que reclama justiça,
liberdade e respeito aos direitos fundamentais dos homens e dos povos”,
como lembra o documento de Puebla.
Não se trata de
pobres numa fria realidade estatística. São pessoas com rostos bem definidos:
crianças subnutridas, jovens sem perspectivas, indígenas, camponeses sem terra,
operários, desempregados, subempregados, idosos, ribeirinhos, dependentes de
drogas, portadores de deficiências, entre tantos outros.
São estas pessoas
aquelas que o Papa Francisco aponta na sua frase-desejo que intitula este
texto. Através destas pessoas pode-se fazer a experiência do Reino de Deus. E,
como diz o Pe. João Batista Libânio, este Reino exige de nós “esperança,
práticas de caridade libertadoras, decisões urgentes e inadiáveis”. Ao mesmo
tempo em que o pobre é amado de Deus e destinatário prioritário do Seu Reino,
ele é também fruto da injustiça, do pecado social e da falta de fraternidade. É
a experiência do Reinado de Deus. É o já e o ainda não. É o “Já”, na presença
do Deus da Vida que caminha ao lado dos que sofrem e o “Ainda não”, porque eles
também são sinal da ausência da fraternidade e da justiça.
Uma Igreja pobre
para os pobres é presente pelo exemplo de Jesus que se fez pobre entre os
pobres. Ou como nos ensina São Paulo que pede que tenhamos “os mesmos
sentimentos que havia em Jesus Cristo: Ele tinha a condição divina, mas não se
apegou a sua igualdade com Deus. Pelo contrário, esvaziou-se a si mesmo,
assumindo a condição de servo e tornando-se semelhante aos homens” (Fl
2,5-7). Que nossa ação pastoral seja de serviço, serviço pleno e em favor de
quem mais precisa.
Fonte: E por falar em Pastoral... (pejotando.blogspot.com)
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