Papa aos sem-teto: perdão por cristãos que lhes desviam o olhar
By Pastoral da Juventude - Arquidiocese de Feira - 18:41
Peço-lhes perdão pelas pessoas da Igreja
que não olharam para vocês, que voltaram o olhar para o outro lado: foram
palavras do Papa Francisco acolhendo ao meio-dia desta sexta-feira (11/11), na
Sala Paulo VI, no Vaticano, cerca de quatro mil pessoas provenientes de muitos
países europeus que viveram ou que vivem na rua, presentes estes dias em Roma
para celebrar o seu Jubileu da Misericórdia.
Várias
associações que assistem pessoas em grave situação de precariedade e sem-teto
aderiram ao evento promovido pela Associação francesa “Irmão”.
As palavras pronunciadas pelo
arcebispo de Lion, Cardeal Philippe Barbarin, abrindo o encontro, foram
precedidas dos calorosos cumprimentos e abraços entre Francisco e seus
convidados.
“Vimos encontrar a Igreja e o próprio Cristo”,
disse Etienne Villemain da Associação Irmão dirigindo-se ao Papa, a quem
agradeceu por habitualmente recordá-los desse modo. Também nós queremos
experimentar a ternura de Deus, disse, expressando ao Pontífice um grande
desejo: de que possam ser organizadas Jornadas mundiais dos pobres.
Em seguida, Christian e Robert
deixaram o seu testemunho: dois sem-teto, repletos de gratidão para com aqueles
que os ajudaram e para com o Papa, por levar consigo os pobres em seu coração.
O Pontífice iniciou dizendo ter
anotado algumas palavras que tinha acabado de ouvir. As seguintes: “como seres
humanos não nos diferenciamos dos grandes do mundo. Temos nossas paixões
e nossos sonhos, que buscamos levar adiante dando pequenos passos”.
A paixão e os sonhos: duas palavras
que podem ajudar. “Não deixem de sonhar”, recomendou o Santo Padre, falando
espontaneamente aos presentes, ou seja, sem texto previamente preparado.
“A pobreza está no coração do
Evangelho. Aquele que tem tudo não pode sonhar! As pessoas, os simples foram
até Jesus porque sonhavam que os haveria de curar, de libertar, de servir e
seguiram-no e Ele os libertava.”
Uma segunda palavra: “A vida é tão
bela”. O que significa que a vida seja bela mesmo nas situações piores? –
perguntou-se o Papa. Isso significa dignidade! A mesma dignidade que teve Jesus
que nasceu pobre, que viveu como pobre:
“Sei que muitas vezes vocês
encontraram pessoas que queriam explorar a pobreza de vocês... porém, sei que
este sentimento de ver que a vida é bela, este sentimento, esta dignidade,
salvou-os de ser escravos. Pobre sim, escravo não! A pobreza está no coração do
Evangelho, para ser vivida. A escravidão não está no Evangelho para ser vivida,
mas par ser libertada.”
Sempre encontramos pessoas mais pobres
do que nós, a capacidade de ser solidários é um dos frutos que a pobreza nos
dá: “obrigado por este exemplo que vocês dão. Vocês ensinam ao mundo a
solidariedade!” Francisco disse ter ficado impressionado ao ouvir falar de paz.
A pobreza maior é a guerra, afirmou, a guerra que destrói:
“A paz que, para nós cristãos, teve
início numa estrebaria, a partir de uma família marginalizada; a paz que Deus
quer para cada um de seus filhos. E vocês, a partir da pobreza, da situação em
que vivem, podem ser artífices de paz. A guerra se faz entre ricos, para ter
mais, para ter mais território, mais poder, mais dinheiro. Precisamos de paz no
mundo! Precisamos de paz na Igreja; todas as Igrejas precisam de paz; todas as
religiões precisam crescer na paz.”
Agradeço a vocês por terem vindo aqui
visitar-me, disse, por fim Francisco, pedindo perdão se alguma vez os ofendeu
com suas palavras ou por não ter dito as coisas que deveria dizer:
“Peço-lhes perdão por todas as vezes
que nós, cristãos, diante de uma pessoa pobre ou de uma situação pobre olhamos
para o outro lado. O perdão de vocês, a homens e mulheres da Igreja, que não
querem olhar ou não quiseram olhar para vocês, é água benta para nós, é limpeza
para nós, é ajudar-nos a voltar a crer que no coração do Evangelho está a
pobreza como grande mensagem e que nós – os católicos, os cristãos, todos –
devemos formar uma Igreja pobre para os pobres.”
Ao término do encontro, o Papa,
colocando-se de pé, recitou uma invocação ao Senhor: “Deus, Pai de todos nós,
de cada um de vossos filhos, peço-vos que nos dê força, que nos dê alegria, que
nos ensine a sonhar para olhar adiante; que nos ensine a ser solidários, porque
somos irmãos; e que nos ajude a defender a nossa dignidade”.
Em seguida, Francisco deteve-se ainda
por um momento intenso de oração silenciosa, circundado de homens e mulheres
que lhe puseram as mãos em suas costas. Um gesto que expressou, mais do que as
palavras, a amizade entre o Papa e os pobres. (AM/RL
Fonte: Rádio Vaticano
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