Os desafios da santidade no mundo atual: Exortação Gaudete et Exsultate do Papa Francisco
By Pastoral da Juventude - Arquidiocese de Feira - 12:17
Os desafios de ser
santos no mundo atual. Em sua Exortação Apostólica 'Gaudete et Exsultate', o
Papa dá indicações sobre como viver a santidade - um chamado que é para todos -
em um mundo que apresenta tantos desafios à fé. Mas Francisco começa o documento,
falando sobre o espírito de alegria.
Nós nos tornamos santos vivendo as
bem-aventuranças, o caminho principal porque "contra a corrente" em
relação à direção do mundo. O chamado à santidade é para todos, porque a Igreja
sempre ensinou que é um chamado universal e possível a qualquer um, como
demonstrado pelos muitos santos "da porta ao lado".
A vida de santidade está assim
intimamente ligada à vida de misericórdia, "a chave para o céu".
Portanto, santo é aquele que sabe comover-se e mover-se para ajudar os
miseráveis e curar as misérias. Quem esquiva-se das "elucubrações" de
velhas heresias sempre atuais e quem, entre outras coisas, em um mundo
"acelerado" e agressivo "é capaz de viver com alegria e senso de
humor."
Não é um
"tratado", mas um convite
É precisamente o espírito de alegria
que o Papa Francisco escolhe colocar na abertura de sua última Exortação Apostólica.
O título "Gaudete et
Exsultate", "Alegrai-vos e exultai," repete as palavras que
Jesus dirige "aos que são perseguidos ou humilhados por causa dele”.
Nos cinco capítulos e 44 páginas do
documento, o Papa segue a linha de seu magistério mais profundo, a Igreja
próxima à "carne de Cristo sofredor."
Os 177 parágrafos não são – adverte -
"um tratado sobre a santidade, com muitas definições e
distinções", mas uma maneira de "fazer ressoar mais uma vez o chamado
à santidade", indicando "os seus riscos, desafios e
oportunidades"(n. 2).
A classe média da
santidade
Antes de mostrar o que fazer para se
tornar santos, o Papa Francisco se detém no primeiro capítulo sobre o
"chamado à santidade" e reafirma: há um caminho de perfeição para
cada um e não faz sentido desencorajar-se contemplando "modelos de
santidade que lhe parecem inatingíveis" ou procurando “imitar algo
que não foi pensado para ele”. (n. 11).
"Os santos, que já chegaram à
presença de Deus" nos “protegem, amparam e acompanham" (n. 4), afirma
o Papa. Mas, acrescenta, a santidade a que Deus nos chama, irá crescendo com
"pequenos gestos" (n. 16 ) cotidianos, tantas vezes testemunhados por
“aqueles que vivem próximos de nós", a "classe média de
santidade" (n. 7).
Razão como um deus
No segundo capítulo, o Papa estigmatiza
aqueles que define como "dois inimigos sutis da santidade", já várias
vezes objeto de reflexão, entre outros, nas missas na Santa Marta, na Evangelii
gaudium, bem como no recente documento da Doutrina da Fé, Placuit Deo.
Trata-se de "gnosticismo" e
"pelagianismo", duas heresias que surgiram nos primeiros
séculos do cristianismo, mas continuam a ser de alarmante atualidade (n.35).
O gnosticismo – observa - é uma
autocelebração de "uma mente sem encarnação, incapaz de tocar a carne
sofredora de Cristo nos outros, engessada numa enciclopédia de abstrações”.
Para o Papa, trata-se de uma
"vaidosa superficialidade”, que pretende “reduzir o ensinamento de Jesus a
uma lógica fria e dura que procura dominar tudo”. E ao desencarnar o mistério,
preferem - como disse em uma missa na Santa Marta - “um Deus sem Cristo, um
Cristo sem Igreja, uma Igreja sem povo "(nn. 37-39).
Adoradores da vontade
O neo-pelagianismo é, segundo
Francisco, outro erro gerado pelo gnosticismo. A ser objeto de adoração aqui
não é mais a mente humana, mas o "esforço pessoal", uma vontade sem
humildade que “sente-se superior aos outros por cumprir determinadas
normas" ou por ser fiel "a um certo estilo católico" (n. 49).
"A obsessão pela lei", “o
fascínio de exibir conquistas sociais e políticas”, ou "a ostentação no
cuidado da liturgia, da doutrina e do prestígio da Igreja" são para o
Papa, entre outros, alguns traços típicos de cristãos que “não se deixam guiar
pelo Espírito no caminho do amor”. (n. 57 ).
Francisco, por outro lado, lembra que é
sempre o dom da graça que ultrapassa "as capacidades da inteligência e as
forças da vontade humana" (n. 54). Às vezes, constata, "complicamos o
Evangelho e tornamo-nos escravos de um esquema". (Nº 59)
Oito caminhos de
santidade
Além de todas as "teorias sobre o
que é santidade", existem as Bem-aventuranças. Francisco coloca-as no
centro do terceiro capítulo, afirmando que com este discurso Jesus
"explicou, com toda a simplicidade, o que é ser santo" (n. 63).
O Papa as repassa uma a uma. Da pobreza
de coração - que também significa austeridade da vida (n. 70) - ao reagir “com
humilde mansidão” em um mundo onde se combate em todos os lugares. (n. 74).
Da "coragem" de deixar-se
"traspassar" pela dor dos outros e ter "compaixão" por eles
- enquanto " o mundano ignora, olha para o lado" (nn 75-76.) - à sede
de justiça.
“A realidade mostra-nos como é fácil
entrar nas súcias da corrupção, fazer parte desta política diária do “dou
para que me deem”, onde tudo é negócio. E quantos sofrem por causa das
injustiças, quantos ficam assistindo, impotentes, como outros se revezam para
repartir o bolo da vida”. (nn. 78-79).
Do "olhar e agir com
misericórdia", o que significa ajudar os outros "e até mesmo
perdoar" (nn. 81-82), "manter o coração limpo de tudo o que mancha o
amor” por Deus e o próximo, isto é santidade. (n.86).
E finalmente, do "semear a
paz" e "amizade social" com "serenidade, criatividade,
sensibilidade e destreza" - conscientes da dificuldade de lançar pontes
entre pessoas diferentes (nn. 88-89) – ao aceitar também as perseguições,
porque hoje a coerência às Bem-aventuranças "pode ser mal vista, suspeita,
ridicularizada" e, no entanto, não se pode esperar, para viver o
Evangelho, que tudo à nossa volta seja favorável" (n. 91).
A grande regra do
comportamento
Uma dessas bem-aventuranças,
"Bem-aventurados os misericordiosos", contém para Francisco "a
grande regra de comportamento" dos cristãos, aquela descrita por Mateus no
capítulo 25 do "Juízo Final".
Esta página, reitera, demonstra que
"ser santo não significa revirar os olhos num suposto êxtase" (n.
96), mas viver Deus por meio do amor aos últimos.
Infelizmente, observa o Papa, existem
ideologias que "mutilam o Evangelho". Por um lado, cristãos sem um
relacionamento com Deus, que transformam o cristianismo “numa espécie de ONG,
privando-o daquela espiritualidade irradiante" vivida por São Francisco de
Assis, São Vicente de Paulo, Santa Teresa de Calcutá. (nº 100).
Por outro, aqueles que "suspeitam
do compromisso social dos outros", considerando-o como se fosse algo de
superficial, mundano, secularizado, imamentista, "comunista ou
populista", ou "o relativizam" em nome de uma determinada ética.
Aqui o Papa reafirma que “a defesa do
inocente nascituro, por exemplo, deve ser clara, firme e apaixonada, porque
neste caso está em jogo a dignidade da vida humana, sempre sagrada” (n. 101).
Mesmo a acolhida dos migrantes - que
alguns católicos, observa, gostariam que fosse menos importante do que a
bioética - é um dever de todo cristão, porque em todo estrangeiro existe
Cristo, e "não se trata da invenção de um Papa, nem de um delírio
passageiro" (n. 103).
"Gastar-se"
nas obras de misericórdia
Assim, observou que "gozar a
vida" como nos convida a fazer o "consumismo hedonista", é o
oposto do desejar dar glórias a Deus, que pede para nos "gastarmos"
nas obras de misericórdia (nn. 107-108).
No quarto capítulo, Francisco repassa
as características "indispensáveis" para entender o estilo de vida da
santidade: "perseverança, paciência e mansidão", "alegria e
senso de humor", "audácia e fervor".
O caminho da santidade vivido como
caminho "em comunidade" e "em constante oração", que chega
à "contemplação", não entendida como “evasão que nega o mundo que nos
rodeia” (nn. 110-152).
Luta vigilante e
inteligente
E porque, prossegue, a vida cristã é
uma luta “constante" contra a "mentalidade mundana" que
"nos engana, atordoa e torna medíocres" (n. 159).
O Papa conclui no quinto capítulo
convidando ao "combate" contra o "Maligno que, escreve ele, não
é "um mito", mas" um ser pessoal que nos atormenta” (n.
160-161).
“Quem não quiser reconhecê-lo, ver-se-á
exposto ao fracasso ou à mediocridade”. As suas maquinações, indica, devem ser
contrastadas com a "vigilância", usando as "armas
poderosas" da oração, a adoração eucarística, os Sacramentos e com uma
vida permeada pela caridade (n. 162).
Importante, continua Francisco, é
também o "discernimento", particularmente em uma época "que
oferece enormes possibilidades de ação e distração" - das viagens, ao
tempo livre, ao uso descontrolado da tecnologia - "que não deixam espaços
vazios onde ressoa a voz de Deus ". Francisco pede cuidados especiais para
os jovens, muitas vezes "expostos a um constante zapping", em mundos
virtuais distantes da realidade (n. 167).
"Não se faz discernimento para
descobrir o que mais podemos derivar dessa vida, mas para reconhecer como
podemos cumprir melhor a missão que nos foi confiada no Batismo."
Com informações de Vatican News
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