Morte e Ressurreição: o mistério pascal

By Pastoral da Juventude - Arquidiocese de Feira - 12:49


O texto de Lucas conta como foram a morte, o enterro e a res­surreição de Jesus. Mas ele conta os fatos de tal maneira, que a gente consiga perceber a semente de esperança e de vida nova que pode nascer da crise, da dor e da morte. Na hora em que a luz bate nos olhos, tudo escurece. Na hora do parto, as dores se anunciam. Na hora da crise, o futuro se abre. Na hora da morte, a vida renasce. 
O texto descreve o que se passou desde a morte e o enterro de Jesus até a experiência da sua ressurreição. Durante a leitura vamos prestar atenção no se­guinte: “Quais são, um depois do outro, os acontecimentos descritos neste texto?”

SITUANDO
Os inimigos conseguem realizar o seu projeto. Matam Jesus. Vencem, usando o poder da força bruta. Vencem, mas não convencem! Não conseguem destruir nem abafar a bondade e o amor em Jesus. Pelo contrário! Lucas mostra como Jesus, exatamente enquanto está sendo vítima do ódio e da crueldade dos homens, revela a ternura de Deus e nos dá a “suprema prova do amor!” (Jo 13,1). Eis algumas frases de Jesus que só Lucas nos conservou e nas quais transparece a vitória da vida que a morte não conseguiu matar: “Desejei ar­dentemente comer esta páscoa com vocês” (22,15). “Façam isto em memória de mim!” (22,19). “Simão, rezei por você, para que não desfaleça a sua fé!” (22,32). Na hora da negação de Pedro, Jesus fixa nele o olhar, provocando o choro de arrependimento (22,61). No caminho do calvário, Jesus acolhe as mulheres: “Fi­lhas de Jerusalém, não chorem por mim!” (23,28). Na hora de ser pregado na cruz, ele reza: “Pai, perdoa, porque não sabem o que fazem” (23,34). Ao ladrão pendurado na cruz a seu lado ele diz: “Hoje mesmo estarás comigo no paraíso!” (23,43). Estas frases nos dão os olhos certos para ler e saborear a descrição da morte, do enterro e da ressurreição de Jesus.

COMENTANDO
1. Lucas 23,44-46: A morte de Jesus
Jesus está pendurado na Cruz. A morte está chegando. Ao meio-dia, o sol escurece, as trevas invadem a terra. Estes fenômenos da natureza interpretam o significado da morte de Jesus. Simbolizam a chegada do Reino. O véu do san­tuário rasgou-se ao meio. Terminou a vigência do Antigo Testamento, simboli­zado pelo Templo, cujo véu separava Deus do resto do mundo. Pela sua vida, paixão, morte e ressurreição, Jesus trouxe Deus para perto de nós e revelou a sua presença em tudo que existe e acontece. Na hora de morrer, Jesus dá um forte grito. O grito do povo oprimido deu início ao primeiro êxodo (Ex 2,23-25), pois Deus escutou o grito do povo. Escuta também o grito de Jesus, fazendo com que se realize o novo êxodo. Jesus resume toda a sua vida dizendo: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito”. Com esta frase do salmo (Sl 31,6), Jesus devolve ao Pai o Espírito que dele tinha recebido na hora do batismo (Lc 3,22).
Foi na força do Espírito que Jesus iniciou a sua missão. É na força do mesmo Espírito que ele a encerra.
2. Lucas 23,47-48: As reações diante da morte de Jesus
Um estrangeiro, centurião do exército romano, vendo o que acontecera na hora da morte de Jesus, faz uma profissão de fé: “Realmente, este homem era um justo!” Justo é aquele que realiza o objetivo da Lei de Deus. Jesus realizou a Lei, transgredindo normas inúteis, abrindo novos caminhos e acolhendo a todos, inclusive aos pagãos. A multidão, vendo o que tinha acontecido, volta para casa batendo no peito. Reconhece o erro que cometeu pedindo a conde­nação de Jesus.
3. Lucas 23,49: As testemunhas da morte de Jesus
Os amigos e as mulheres que o haviam acompanhado desde a Galileia per­manecem à distância, observando tudo. Testemunham que foi assim que Jesus morreu. Aqui, Lucas indica a fonte de onde recolheu parte do material que aca­ba de contar.
4. Lucas 23,50-54: O enterro de Jesus
José de Arimateia, membro do Sinédrio, que não concordara com a conde­nação de Jesus, cuida do enterro. Jesus é enterrado num sepulcro novo, talhado na rocha. Realiza-se, assim, outra profecia de Isaías sobre o Servo que dizia: “Seu túmulo está com os ricos” (Is 53,9). Lucas insiste em dizer: “Era o dia da Preparação. O sábado estava quase começando”. O sábado é o 7° dia. Estava ter­minando o 6° dia da nova criação. Jesus descansa no 7° dia.
5. Lucas 23,55-56: As mulheres, testemunhas do enterro de Jesus
As mulheres testemunham também o lugar onde foi colocado o corpo de Jesus. Havia, ali, muitos sepulcros, alguns fechados, outros abertos. Quem não soubesse bem onde Jesus havia sido enterrado poderia enganar-se. Mas elas seguem José de Arimateia, observam bem o túmulo, veem o lugar, fixam na memória. Aquele sepulcro aberto do domingo de Páscoa é realmente de Jesus! Não é um engano! Em seguida, elas voltam para casa, preparando aromas e perfumes para poder ungir o corpo de Jesus depois do descanso do sábado.
6. Lucas 24,1-3: Os fatos encontrados: túmulo vazio, pedra removida
Seguindo de perto o Evangelho de Marcos, Lucas oferece informações de­talhadas sobre a hora e o lugar. Estes detalhes sugerem que as mulheres são pessoas de confiança para testemunhar a ressurreição. Elas estão convencidas de que Jesus está morto, pois vão para o túmulo para ungi-lo. A sua fé na res­surreição não foi fruto de fantasia, mas algo totalmente inesperado. Quando chegam ao sepulcro, veem que a pedra já tinha sido removida. Entrando dentro do sepulcro não encontram o corpo de Jesus. Estes são os fatos. Qual é o seu significado?
7. Lucas 24,4-8: O significado dos fatos: o anúncio da ressurreição
Dentro do sepulcro, elas encontram dois homens em vestes fulgurantes que lhes interpretam o significado destes fatos inexplicáveis: “Jesus está vivo. Ele ressuscitou!” Elas lembram as palavras do próprio Jesus e as palavras da Escritura. Daqui para a frente, a palavra de Jesus e a palavra da Escritura têm ambas o mesmo valor.
8. Lucas 24,9-12: Os apóstolos não acreditam no testemunho das mulheres
Lucas diz quem são as mulheres: Maria Madalena, Joana e Maria, a mãe de Tiago, bem como as outras que estão com elas. Voltando do sepulcro, elas anun­ciaram a Boa Nova aos Onze, mas estes não lhes dão crédito. Não foram capazes de crer no testemunho das mulheres. Dizem que é um “desvario”, invenção, fofoca. Naquele tempo, as mulheres não podiam ser testemunhas. Ao transmitir a elas a Ordem de anunciar a Boa Nova da ressurreição, Jesus estará pedindo uma mudança total na cabeça das pessoas. Deviam dar crédito a quem, dentro da sociedade daquele tempo, não merecia crédito. Assim, começou a subversão do anúncio da ressurreição! Lucas termina dizendo que Pedro vai ao túmulo, encontra-o vazio e volta para casa. Mas não chega a crer. Fica apenas surpreso.


ALARGANDO
1. A experiência da ressurreição aconteceu, primeiro, nas mulheres (Mt 28,9-10; Mc 16,9; Lc 24,4-11.23; Jo 20,13-16); depois, nos homens. Ela é a confirmação de que, para Deus, uma vida vivida como Jesus é vida vitoriosa. Deus a ressuscita! Em torno desta Boa Nova surgiram as comunidades. Crer na ressurreição o que é? É voltar para Jerusalém, de noite, reunir a comunidade e partilhar as experiências, sem medo dos judeus e dos romanos (Lc 24,33-35). É receber a força do Espírito, abrir as portas e anunciar a Boa Nova à multidão (At 2,4). É ter a coragem de dizer: “É preciso obedecer antes a Deus que aos homens” (At 5,29). É reconhecer o erro e voltar para a casa do pai: ‘’Teu irmão estava morto e voltou a viver” (Lc 15,32). É sentir a mão de Jesus ressuscitado que, nas horas difíceis, nos diz: “Não tenha medo! Eu sou o Primeiro e o últi­mo. Sou o Vivente. Estive morto, mas eis que estou vivo para sempre. Tenho as chaves da morte e da morada dos mortos” (Ap 1,17s.). É crer que Deus é capaz de tirar vida da própria morte (Hb 11,19). É crer que o mesmo poder usado por Deus para tirar Jesus da morte opera também em nós e nas nossas comunida­des, através da fé (Ef 1,19-23).
2. Até hoje, a ressurreição acontece. Ela nos faz experimentar a presença libertadora de Jesus na comunidade, na vida de cada dia (Mt 18,20), e nos leva a cantar: “Quem nos separará, quem vai nos separar, do amor de Cristo, quem nos separará? Se ele é por nós, quem será contra nós?” Nada, ninguém, auto­ridade nenhuma é capaz de neutralizar o impulso criador da ressurreição de Jesus (Rm 8,38-39). A experiência da ressurreição ilumina a cruz e a transforma em sinal de vida (Lc 24,25-27). Abre os olhos para entender o significado da Sagrada Escritura (Lc 24,25-27.44-48) e ajuda a entender as palavras e gestos do próprio Jesus (Jo 2,21-22; 5,39; 14,26). Uma comunidade que quiser ser teste­munho fiel da Boa Nova da Ressurreição deve ser sinal de vida, lutar pela vida contra as forças da morte. Sobretudo aqui na América Latina, onde a vida do povo corre perigo por causa do sistema de morte que nos foi imposto.
  
TEXTO EXTRAÍDO DO LIVRO "O AVESSO É O LADO CERTO"

Fonte: Centro de Estudos Bíblicos (cebi.org.br)

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